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quinta-feira, 10 de maio de 2012

Gauchismos, mentalidade restrita e outras bobagens


O bom patrono de Feira do Livro deve ser gaúcho e franciscano dos pés descalços.

Na recente polêmica Gabriel o Pensador x Autores Gaúchos, cabe uma reflexão: será que o problema é quanto o Pensador (um artista que merece ser valorizado) cobra pelo seu show e venda de livros (num somatório que foi erroneamente designado “cachê” pela mídia local) ou nossos escritores é que estão ganhando pouco? Isto nada mais é do que o reflexo sincero da sociedade brasileira onde professores, escritores e outros "ores" fundamentais, verdadeiros pilares da sociedade, são tratados à margem. Agora, o outro lado da moeda: toda esta polêmica instalou-se, também, pelo fato de Gabriel o Pensador não ser gaúcho. Tenho certeza que, se em seu lugar estivesse um autor local com as mesmas qualidades (Gabriel é músico, escritor premiado com o Jabuti de melhor livro infantil e criador de uma ong que oferece reforço escolar para crianças carentes), não estariam todos esperneando e condenando o rapaz que, no final das contas, não tem culpa de nada, pois foi convidado pela organização do evento.E é justamente neste ponto que insisto quando alguém bate no peito e diz “ah, eu sou gaúcho”: está mais do que na hora de desentranharmos de nossa cultura este orgulho besta de achar que somente o que é daqui presta, que não precisamos de ninguém, que o gaúcho é melhor. Fico decepcionado quando, após apresentar meu portfolio (que inclui grandes indústrias farmacêuticas do Rio e SP), o cliente gaúcho diz: “hum, tudo bem... e fizeste algo para alguma empresa aqui de Porto Alegre?”Triste e melancólico ver como esta mentalidade embotada e restrita atrasa nossa vida, limita nossos negócios e leva aos quatro cantos do mundo nossa imagem de povo difícil de negociar.No fim das contas, o Pensador pressionado recuou. Vai fazer tudo de graça e os gaúchos conseguiram o que queriam: estampar nas primeiras páginas o “ganhamos” e o “aqui, mandamos nós!”. Mas poderia ser pior. Como o próprio Pensador mencionou, o show do Latino custa o dobro. E o Latino (mesmo de graça), não dá.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Pobre gosta de luxo, azulejo e iPad!

"Pobre gosta mesmo é de luxo, gosta de se vestir bem, comer bem, morar bem e beber bem.
Esse negócio de que pobre não gosta de coisa boa é invenção de rico." (Luiz Inácio Lula da Silva)

Desde que criamos o projeto iPad Na Sala de Aula, pioneiro em mesclar capacitação de professores e pedagogia no uso da ferramenta, vivemos numa maré que varia do ame-o ao deixe-o. No time dos que amam, estão aqueles que enxergam neste aparelho um revolucionário suporte à educação, colocando na mão de professores e alunos até então inimagináveis recursos de mídia. No time dos que odeiam, encontram-se os bravos defensores do software livre, dos sistemas não-proprietários e dos tablets "baratos". 

Nós adotamos o dispositivo da Apple por diversos fatores. Entre os mais relevantes, cito a pesquisa prévia sobre conhecimento/intenção de aquisição (todas as escolas pesquisadas mencionaram o iPad e não outro tablet); uniformidade e suporte (ao contrário do Android, onde cada dispositivo possui uma versão diferente, o iPad possui apenas uma, atualizada automaticamente pela Apple quando necessário); segurança (que no Android Market ainda deixa muito a desejar, possibilitando a presença de apps maliciosos) e disponibilidade de aplicativos. Em nenhum momento se pensou em favorecimento da marca - nosso o objetivo do projeto não é vender iPads. Como almejávamos capacitação e harmonia entre o aspecto pedagógico e o técnico, tanto importava o equipamento escolhido. Se as escolas, na pesquisa prévia, assim tivessem respondido, o projeto seria Android na Sala de Aula - mas não foi assim.

Em resumo, adotamos o iPad pois percebemos o perigo de mais uma excelente ferramenta como o tablet ser desperdiçada por falta de capacitação dos professores (que geralmente são os últimos a serem consultados em qualquer projeto deste tipo). Outras tecnologias são tão boas quantas, mas o que aconteceu? Temos o UCA (Um Computador por Aluno), as lousas digitais, os projetores multimídia... tudo isso muito lindo e geralmente jogado na sala de aula sem nenhuma capacitação de quem irá usá-los - os professores! E depois, a culpa é deles quando as coisas não funcionam...

Alguns detratores dizem que e-readers poderiam substituir o iPad, com baixo custo, no projeto. Só que e-readers são isto - tablets para leitura, não mais. Em termos de multimídia, é como comparar um radinho de pilha com um Blue-Ray.

Outros se apegam à romântica questão do "software livre" (que, de livre, não tem nada - pergunte à qualquer gerente de TI que implementou Linux pois a "diretoria" não queria mais pagar por licenças do Windows…e depois, teve que contratar programadores). Dizem que os professores e as crianças ficarão "escravos" do iPad, um "ecossistema fechado…ora, a Apple disponibiliza em seu site todas as ferramentas gratuitas para qualquer pessoa desenvolver aplicativos para Mac, iPhone, iPad e Safari. Ontem mesmo li uma reportagem sobre um menino de 8 anos que, cansado dos jogos que já tinha, criou 2 aplicativos para o iPhone e já ganhou 800 dólares com isto…

E, finalmente, há quem diga que certo está o governo, que gastará até 180 milhões com a aquisição de 900 mil tablets. Isto dá, em média, 200 reais por tablet. Questiono seriamente a qualidade destes equipamentos. E, respondendo a um recente post que criticava nosso projeto: "O que seria melhor: oferecer e-readers para (digamos) 1 milhão de alunos, ou tablets multimídia para 100 mil?", eu digo: NENHUMA DAS OPÇÕES SERIA MELHOR. E invoco o presidente Lula, quando ele diz que pobre gosta de luxo. Só que gosto de interpretar este "pobre" como o pobre professor, que sofre com carga horária e salário incompatíveis com a dignidade e responsabilidade do cargo. E o luxo? O luxo é ter pelo menos ventilador na sala de aula, merenda, livros e recursos decentes, antes da implementação de tal arroubo marqueteiro do governo. Enquanto tivermos um dos piores índices internacionais de educação, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), de nada adianta colocar um tablet na mão de cada professor. 

De nossa parte, sabemos que o iPad na Sala de Aula é um projeto que, sozinho, não conseguirá mudar a educação no Brasil. Mas uma coisa temos certeza: mudará a vida de alguns professores.